06 janeiro, 2009

O AMOR PODE DAR CERTO -Parte 5.

As vezes,tarde da noite. Quando todos já dormem,eu fico me perguntando,como essa historia seria se eu não tivesse aceito caminhar por aquele bosque,se eu simplesmente recusasse e fosse embora para meu apartamentinho frio e solitário.
Mas então,me lembro do que se seguiu,e sinto calafrios,formigações no estomago,e quando me dou conta,estou sorrindo novamente.
-

Todos da família dele caminhavam rápido e pareciam nem reparar em todos os galhos espalhados pelo chão.
Eu tremia,um pouco de frio e um pouco de medo.
Não queria ir,e formulava em minha mente maldiçoes para toda aquela situação.
De repente,uma mão tapou minha boca e me puxou para trás de uma moita. Eu teria gritado ,teria corrido,mas não pude. O medo simplesmente me fez congelar.
Eu já temia pelo pior quando ouvi a voz dele:
-Calma,sou eu,eu disse que íamos despistá-los,não disse?!
Meu coração estava disparado,e a sensação de que estava a salvo me fez perder todas as minhas travas sociais. Não podia resistir.
Pulei em cima de Eduardo e o abracei sussurrando vários “obrigada,obrigada”.,e sorrindo.
Achei que ele não entenderia e ate se afastaria,mas senti na retribuição do abraço,que ele me entendia,e que tinha feito aquilo não só por mim,mas por nós.
-Vem,quero te levar para um lugar Lívia.
*
Caminhamos pela beira da estrada,conversando,sorrindo,brincando e compartilhando historias e planos.
Acho que nunca ouvi e falei tanto em toda a minha vida. Nunca me senti tão viva e tão feliz.
Estávamos andando abraçados e o mundo parecia conspirar para que nada nos atrapalhasse.
Eduardo,ou Edu,como ele me pediu para chamá-lo,me disse como era difícil fazer ser o filho “perdido”.
Os pais queriam que ele se tornasse um advogado famoso,que desse continuidade a fortuna da família e que se casasse com alguém da alta sociedade,mas ele nunca quis isso,alias,nunca quis nada do que os pais haviam planejado.
-Eu quero ser pianista. MUSICA,é disso que eu gosto.
-E tenho que admitir que talento para tal carreira é o que você tem de sobra.
Ele corou,sorriu agradecendo e me apontou um chalé que ficava escondido perto da estrada.
-Era pra cá que eu fugia dos meus pais. Vem,lá poderemos conversar mais tranquilamente.
Era uma espécie de pousada,com um balcão cheio de bebidas.
A lareira dava um toque acolhedor,e o silencio ajudava muito a nossa conversa.
-Acho que o estopim para o desgosto total de meus pais foi quando eu entrei para a faculdade e arranjei um emprego aqui.
Não pude conter meu espanto. Edu,por mais simples que fosse,não fazia o perfil de quem se sentiria bem servindo bebidas ou ouvindo conversa furada durante a madrugada.
Ele continuou:
-Adorava trabalhar aqui,conversar com as pessoas.
-E então,por que parou de trabalhar aqui?
Ele ficou serio,olhou pela janela e notei que algumas lagrimas estavam se formando.
Peguei nas mãos dele ,mas ele as tirou educadamente. Não tinha reação e pela primeira vez o silencio dele me fazia mal,me causava incomodo.
Eu estava a ponto de sair e volta para a casa dos pais dele quando ele se virou sorridente,e me pediu desculpas.
-É uma longa historia,outro dia te conto. Agora,me fale de você.
Decidimos ir andando enquanto eu falava o pouco que havia a ser contado sobre mim.
-Perdi meus pais muito nova,acidente de carro....minha avó me criou.
Ele sempre parecia realmente interessado,mantinha os olhos fixos em mim,e esperava por cada próxima palavra que saia de minha boca.
-...quando terminei a faculdade,minha avó já tinha falecido e não tinha mais nada que me fizesse bem por lá,então,decidi seguir com meus sonhos.
Ele me deu um abraço e para minha surpresa disse:
-Eu te admiro muito,muito...
A partir daí caminhamos um pouco em silencio ate um descampado coberto de neve,onde brincamos de atirar bolas um no outro.
De repente,aquela barreira que eu criava para não me decepcionar com as pessoas,se quebrou,e a que ele criava para não causar decepções as pessoas,também.
Porem,ainda tinha algo que eu não sabia,algo nele que me intrigava.
Já estava tarde,retornamos para a casa dos pais dele.
Deixamos os casacos cobertos de neve na porta e subimos silenciosamente as escadas de madeira para não acordar os primos dele que estavam dormindo no sofá.
-Bem,está entregue a seu quarto Lívia,espero que a cama esteja confortável.
Ele estava indo para o fim do corredor quando eu fui atrás e dei-lhe um abraço.
Senti as mãos dele se erguerem,se alojarem em minhas costas,o coração dele disparar,as mãos escorregaram para a cintura,indo em seguida para o braço,o pulso,as mãos.
Nossos corpos se afastando,nosso rosto se distanciando,a mão dele afastando meu cabelo,e descansando em minha nuca,nossos narizes encaixados,e nosso lábios quase se tocando.
Minhas pernas ficaram tremulas e eu sentia que ia me espatifar no chão a qualquer instante.
O frio tinha passado,e a única sensação que eu dava importância era para o calor do corpo dele,e a minha quase certeza de que ele iria me beijar.
Não entendi o por quê na hora,mas de repente ele simplesmente desviou a cabeça,me dando um beijo,muito desconfortável,na testa e dizendo:
-É melhor eu ir. Boa noite.
E eu fiquei ali,vendo ele ser engolido pela escuridão do corredor.

CONTINUA

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